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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Amor x Poder



Atualmente, o que está inteiramente em jogo é a busca da justificativa para os atos do mundo. Essa justificativa parte de uma condição puramente psicológica primitiva do homem de tentar explicar qualquer fenômeno que ele julgue não sendo da sua própria natureza ou feitio. O que está em falta na civilização universal hoje é o instinto moral puro, aquele que Kant já mencionava em suas teorias filosóficas. As sociedades em geral, com o seu discurso moral impecável e a própria Igreja como instituição e potência mundial com o pecado original vem impor as regras e o que é moralmente aceito para o homem. Mas daí eu te pergunto, qual a raiz da necessidade de reprimir tudo aquilo que não é norma? É a partir do homem civilizado que nasce a consciência na sua forma mais rígida e pontual. A necessidade de repressão de tudo aquilo que mata o ego é mais acentuada aqui. A meu ver, a necessidade dessa repressão se dá pelo fato de querer reprimir a verdade oculta da alma humana, a bilateralidade dos opostos.

O olhar humano em torno da realidade objetiva e subjetiva do mundo, dos fenômenos e do indivíduo a muito se perdeu nas condutas ditas morais; a política da Vossa “santidade” camuflou o que não deveria ser jamais esquecido no que diz respeito à alma humana: sua natureza oposta e compensatória.

  “A psique primitiva ainda não se conhecia a si mesma. Esta consciência só se formou no decorrer da evolução, que em parte prolongou-se até os tempos históricos. [...] Ela orgulha-se, e não pouco, dessa sua libertação do inconsciente. Em compensação, tornou-se presa aos conceitos verbais criados por ela mesma. [...] Podemos, com efeito, ser tão dependentes das palavras quanto do inconsciente – e de fato também o somos”. (OC, 11/3, p. 110, C.G.Jung)

O medo do homem civilizado hoje em dia é cometer uma heresia, e com isso, anula uma parte da sua alma em troca de um gozo em torturar aqueles que perante a sociedade são considerados fora dos padrões normais de conduta. Esquecemos que é a partir de todas as relações que construímos nossa própria história. A sombra coletiva está a muito cheia de conteúdos obscuros que a consciência coletiva não deixa de forma alguma emergir. Mas, simbolicamente, o que isso nos sugere? Acredito que é mais uma tentativa de refúgio de nós mesmos do que de adesão à lei moral. Jung postulou uma vez que o contrário do amor não é o ódio, mas sim, a vontade de poder. O poder, meus caros, foi o que moveu o mundo desde os tempos mais imemoriais até os dias de hoje. É o poder que faz com que esquecemos a nossa própria essência. Mas o poder não pode não existir, ele é necessário. E está aí o conflito!


O que realmente nos falta é o entendimento da nossa própria natureza, é a experiência luminosa, é o olhar fenomenológico do outro e consigo mesmo. O filme “ Os miseráveis”, baseado na obra de Victor Hugo é um retrato maravilhoso para expressar tudo o que foi exposto nesse texto. Jean Valjean e Javert são duas atitudes totalmente compensatórias no filme, o primeiro, imagem de amor e misericórdia e o segundo de poder.


Esse texto foi apenas uma reflexão baseada no texto de Felipe Pondé, publicado hoje na Folha de São Paulo.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1255337-o-gozo-da-pulsao-de-morte.shtml

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