
Falar das etapas da
vida humana e de sua construção que visa um sujeito subjetivo e singular é uma
tarefa difícil, pois envolve todo o caráter multidimensional e dinâmico de suas
estruturas e de sua vida psíquica que provém do nascimento até a morte, etapa
ultima na estância do desconhecido. A psicologia analítica visa à construção de
um saber que priorize a totalidade do indivíduo a partir de suas experiências e
da dinâmica ambivalente através da compensação dos opostos existentes na
própria estrutura dinâmica da alma humana. A personalidade não é algo
petrificada, mas está em contínua construção a partir de suas experiências e de
sua responsabilidade consigo para construir uma identidade sólida e aceitar sua
própria existência a partir de sua própria natureza. Jung em seu livro “A
natureza da psique” visou tratar o indivíduo a partir de uma leitura
fenomenológica de suas experiências com certos problemas acometidos durante o
desenvolvimento do indivíduo, ou seja, a partir de coisas que são difíceis,
questionáveis e ambíguas. Jung afirmava:
“Pelo contrário, trataremos apenas de
certos problemas, isto é, de coisas que são difíceis, questionáveis ou
ambíguas; numa palavra: de questões que nos permitem mais de uma resposta – e,
além do mais, respostas que nunca são suficientemente seguras e inteiramente
claras” (A natureza da psique, XVI – as etapas da vida humana, pág. Xx)
A partir dessa leitura, é possível
perceber que abarcar todos os fenômenos a respeito da alma humana é uma tarefa
quase impossível; embora os fenômenos psíquicos seja uma parte do mundo é
difícil apreender todos os fenômenos que emanam da alma. Os fenômenos que podemos experimentar
diretamente são os conteúdos da consciência humana. A consciência humana é
aquela que rege as percepções sensoriais dadas pelos órgãos dos sentidos na
medida em que o individuo vai experienciando o mundo, porém ela não deduz o que
os fenômenos sejam em si (essência), pois isto é uma tarefa do processo de
apercepção, no qual é extremamente complexa e tem um caráter extremamente
psíquico. Existem também certos conteúdos da experiência que transcendem a
nossa percepção sensorial e que a existência psíquica desses conteúdos somente
é acessível por via indireta, nos quais podemos observar claramente esses
conteúdos através dos sonhos. Nos estados patológicos podemos também encontrar
exemplos visíveis da existência de uma atividade psíquica que foge da
consciência do individuo, e por conta disso estamos certos em falar que a alma
também possui uma estrutura inconsciente. Jung a partir de suas observações,
experiência e estudos pode aprofundar mais o seu conhecimento da alma humana e
distinguiu três níveis psíquicos, a saber: 1) consciência; 2) inconsciente
pessoal que são conteúdos que perderam suas intensidades e por isso caíram no
esquecimento imediato, seja porque a consciência se retirou deles devido a um
conflito dos conteúdos (repressão) e, depois, conteúdos que nunca estiveram na
consciência devida a sua baixíssima intensidade e 3) o inconsciente coletivo,
que como herança imemorial e atemporal com várias possibilidades de
representação, porém não sendo de caráter individual, mas universal, esta
contido os arquétipos e os instintos e a partir de sua estrutura constitui a
verdadeira base do psiquismo individual.
O inconsciente coletivo como sendo
atemporal e universal é extremamente difícil formular um conhecimento concreto
a respeito de sua estrutura e dinâmica e o que podemos é apenas supor
explicações. Porém, a mitologia é uma espécie de projeção do inconsciente
coletivo, nos quais seus conteúdos experienciados foram constelados e
projetados nas lendas e nos contos de fadas ou em personagens históricos e
principalmente podemos percebê-lo nos elementos religiosos. Jung ao falar dos
arquétipos em seu texto “A estrutura da alma” afirma:
“As condições psicológicas do meio ambiente
naturalmente deixam traços místicos semelhantes atrás de si. Situações
perigosas, sejam elas perigos para o corpo ou ameaças para a alma, provocam
fantasias carregadas de afeto, e na medida em que tais situações se repetem de
forma típica, dão origem a arquétipos, nome que eu dei aos temas místicos
similares em geral”.
O inconsciente coletivo é um repositório
de todas as experiências humanas desde os tempos mais imemoriais, porém, é um repositório
vivo e criativo que impulsionam também o indivíduo a seguir seu próprio caminho
mesmo que seja invisível a sua percepção. O inconsciente é também a fonte dos
instintos, visto que os arquétipos são as formas através das quais os instintos
se expressam na vida psíquica do individuo. É a partir da fonte dos instintos
que a psique é criativa; e por isto mesmo, o inconsciente não é apenas
histórico, mas gera também um impulso criador; impulso esse que será expresso
pela consciência individual que é de extrema importância para a constituição do
individuo, pois é a partir dela que o homem se torna consciente não apenas de
sua vida exterior, mas também da vida interior. A consciência é responsável por
todas as adaptações e orientações da vida do homem, e por isso o
desenvolvimento do homem pode ser comparado com a sua orientação no espaço. O
inconsciente pelo contrário, é a fonte de todas as energias instintivas da
psique e contem as formas ou categorias que as regulam, que são os arquétipos.
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