Translate

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Psicologia como biopoder?



Em meio aos muitos assuntos que permeiam o mundo científico nos dias de hoje e como pesquisadora/observadora empírica, atenta aos fenômenos produzidos pelo mundo e pela alma humana - e, é claro, as vezes deixando de perceber muitos detalhes porque faz parte do processo - , eu absolutamente não posso me calar diante da situação que presenciei esses dias por tratar-se de temas significativos. E, ainda, como minha pesquisa que está em andamento para transformar-se em um artigo é uma crítica interna ao fazer psicológico, é de minha responsabilidade expor aqui mais uma vez a minha opinião sobre o assunto.

 
Pergunto-me: o que realmente está acontecendo com o fazer/saber psicológico? Entrou realmente em pé de guerra? Minha modesta crítica parte de um referencial, baseado na matéria que saiu na Folha de São Paulo esses dias: “Manifesto defende psicanálise como opção para autismo”. A matéria fala do movimento que a Psicanálise está realizando devido à tentativa das políticas públicas de excluirem-na como opção para tratamento de crianças autistas e priorizarem o saber psiquiátrico e a TCC. Essa matéria gerou discussões entre alguns alunos do curso de Psicologia da Unifor, em um grupo fechado no Facebook, e me fez questionar e refletir sobre vários pontos referentes à Psicologia nos dias de hoje.

  James Hillman em seu mais novo livro O código do Ser , parte de um pressuposto que me chamou bastante atenção, quando afirma:


“De todos os pecados da psicologia, o mais mortal é seu descaso pela beleza. Afinal de contas, uma vida tem algo de muito belo. Mas quem lê os livros de psicologia não fica com essa impressão. Mais uma vez, a psicologia trai o que ela estuda. Nem a psicologia social, nem a experimental, nem a terapêutica dão espaço para a apreciação estética da história de uma vida. Sua tarefa é investigar e explicar, e se um fenômeno estético aparecer em algum de seus casos (e não apenas nos esteticamente dedicados, como Jackson Pollock, Colette ou Manolete), será explicado por uma psicologia que antes de mais nada carece de sensibilidade estética.”


O que me fez refletir bastante foi o ponto em que a Psicologia agora também é vista como “biopoder”. Daí, fiquei me perguntando: onde realmente está aqui a preocupação intrínseca com a alma humana? As pessoas ficam discutindo o que uma abordagem X pode fazer que seja melhor que a abordagem Y, mas esquecem o principal: olhar fenomenologicamente e humanamente para o problema em questão que é o autismo. O que nos falta meu caro, é o AMOR, A COMPAIXÃO, A RESPONSABILIDADE E O RESPEITO. É olhar para uma vida, considerando que esta é mais uma vida que está em movimento, em relação ininterrupta com o mundo e construindo experiências. Não me atrevo aqui a dizer que as questões biológicas, orgânicas, psicológicas, sociais, culturais, enfim não sejam importantes e não precisem ser levadas em consideração. O problema mais uma vez está no posicionamento ético e nas atitudes que cada profissional adota como prática. Onde está o desejo de ajudar os que sofrem? O último resquício do Romantismo a muito se perdeu nessa sociedade capitalista que visa o biopoder como instância última. A psicologia não pode existir sem beleza, sem vida, sem amor, sem vivência múltipla, pois sem a beleza - muito bem exposta por Hillman - torna-se vítima de suas próprias críticas cognitivas e a paixão que um dia teve, perder-se-á no afã da conquista de uma posição.A Psicologia, hoje, tem se preocupado com o progresso e,obviamente, deve acompanhar o que perpassa o agora; porém, nunca deverá esquecer-se do principal: a alma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixa aqui sua reflexão. :)